terça-feira, 29 de maio de 2007

Boataria e informação: tudo no mesmo saco

Em 2006 o estado de São Paulo passou por uma série de ataques coordenados pela facção criminosa PCC (Primeiro Comando da Capital). Nesse momento, a mídia – como define o texto de Ramón Salaverría – passou por uma situação de exigência máxima. Portanto, mais do que qualquer cobertura especial, esse acontecimento permite uma análise segundo as observações do texto “Los Cibermedios Ante Lãs Catástrofes: Del 11S al 11M”.
Em primeiro lugar é preciso ressaltar que, analisando a cobertura on-line brasileira, tentaremos definir o grau de evolução de ciberjornalismo brasileiro frente a uma situação limite. Assim como na Espanha, a internet nacional vem se desenvolvendo desde 1994 e, pois, ainda é um veículo novo e não tão consolidado como a televisão e o rádio.
A vantagem da rede mundial de computadores em relação a outras mídias é a velocidade com que as notícias podem ser publicadas. No entanto, nessa ocasião, algumas televisões – como a Globo e a Record – tiveram sua programação totalmente dedicada ao acontecimento. Então, os portais foram obrigados a se superarem ainda mais, aumentando a quantidade de artigos e notícias especulativas e errôneas. No site do Último Segundo, do portal ig, por exemplo, a seguinte passagem foi publicada: “Bilheteria de uma estação do metrô de São Paulo foi alvejada por um grupo de bandidos.” Na verdade, nenhuma bilheteria foi atacada. Trata-se de um rumor.
Os “boatos” (como definiu a Polícia Federal à época) jogados na internet não só por “blogueiros”, mas também por sites informativos conceituados, ajudaram a criar uma onda de terror que, assim como nos ataques terroristas em Madri, deixaram a população em pânico. Em seu texto, Salaverría chega, inclusive, a dizer que os terroristas que atacaram a capital espanhola sabiam que a repercussão afetaria a população ainda mais do que os próprios ataques. Para ele, o “mas-mediated terrorism” é ainda mais eficiente para apavorar a população do que os próprios ataques.
A avançada tecnologia – que permitiu que milhares de pessoas acessassem os portais ao mesmo tempo – e o grande número de jornalistas da maior capital brasileira – que proporcionou uma cobertura extensa – colaborou para a difusão dos boatos. Nesse caso, portanto, o que deveria ser vantagem, se tornou ruído.
Um exemplo que prova tais análises pode ser encontrado em um balanço, publicado no portal Uol, sobre os ataques do PCC. “Ele [Um Coronel da PM] atribuiu essa situação - um autêntico "toque de recolher espontâneo" - à cobertura da imprensa e à boataria que se propaga pela Internet, mensagens de SMS e celulares.”
É difícil, todavia, saber se algum portal ficou isento dessa contaminação. A princípio, a Internet serviu para propagar informações desencontradas. Como a dinâmica de troca de dados na rede é muito grande – principalmente devido ao largo acesso da população –, os jornalistas acabaram tomando o caminho mais fácil; a cobertura de escritório. Por outro lado, a confluência de mídias permitiu que imagens e vídeos chegassem mais rapidamente às pessoas.

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