terça-feira, 17 de abril de 2007

A reportagem

Eu nunca tinha feito nada próximo do trabalho de repórter televisivo, não entendia a dinâmica do trabalho, pensava que não sabia abordar as pessoas. Mas, agora, depois do primeiro exercício de “povo fala” que fiz junto com o grupo do De Últimas, vi que tudo isso pode ser bem divertido.

Uma coisa é fato, o povo quer falar. Num primeiro momento eu achava que todo mundo passaria reto pela equipe (como muitas vezes eu mesmo faço) e não responderia à nossa pergunta, que, aliás, era bem capciosa: o que você faria se o príncipe William, herdeiro do trono inglês, apalpasse os seus seios? Mas a mulherada se mostrou bastante solícita e até desinibida perante tal pergunta.

Eu senti que realmente há aquele negócio da mística que o microfone exerce. A maioria das entrevistadas não sabia que a entrevista não seria vinculada em um telejornal ou coisa parecida. Então, algumas demonstravam preocupação com a aparência (afinal, o país inteiro não pode vê-la de cabelo desarrumado) e tentavam responder sempre de maneira original, como se essa resposta garantisse a sua aparição no suposto programa de TV. Claro que essa “originalidade” era um pouco repetitiva, “eu daria um tapa nele” foi uma resposta um bocado freqüente, por exemplo. E todas as moças e senhoras que respondiam de tal maneira, faziam como se fossem as únicas, como se ninguém jamais pudesse pensar nisso antes.

Por mais que o aparato televisivo seja um pouco intimidador, as entrevistadas não se incomodaram nem um pouco com isso. E aí é que está um pouco do poder simbólico da TV. Provavelmente, se eu estivesse com um gravadorzinho, ou com um caderninho de anotações, elas nem ligariam muito para a pergunta. A questão é que elas conhecem, mesmo que inconscientemente, o poder da televisão. Sabem que respondendo àquele microfone, as chances da cunhada, da mãe, do pai, do tio, do ex-namorado vê-las são imensamente maiores do que se elas respondessem a um jornal ou a uma rádio. Sem contar que a TV tem a imagem como trunfo, as pessoas não vão só ouvi-las, vão, principalmente, vê-las. Mal sabiam elas que as suas respostas só vão ser mostradas a alguns professores e colegas de classe. Deve ser um pouco frustrante.

Eu imagino se eu tivesse feito o mesmo exercício com a chancela de uma emissora de TV. Não duvido nada que haveria ainda mais respostas “originais” e seria ainda mais fácil abordar as entrevistadas. Já até imagino a filinha se formando para responder à nossa pergunta: “eu daria um tapa nele”, “publicaria a foto e ganharia um bom dinheiro”, “processava o príncipe”, “daria um tapa nele”, “processaria”, “publicava”, “dava um tapa”...

Ironicamente a resposta mais original não tentou ser muito inovadora e foi, de longe, a mais sincera. Veio de uma senhora que respondeu com muita propriedade: “[não faria] nada. Apalpou, apalpou, ué?”